terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Como investir em tempos de crise?

Com o sistema financeiro em crise, investir – prática que normalmente já gera inúmeras dúvidas, principalmente na cabeça de quem não é muito acostumado com esse mercado – se torna uma atividade ainda mais meticulosa. Qualquer passo em falso pode complicar bastante a vida de qualquer um.
Pensando nesse público, o economista Marcos Silvestre lançou o livro "Investimentos à prova de crise", em que aponta os melhores caminhos (e as melhores formas de percorrê-los) para se investir nessa fase de turbulências econômicas.
Para Silvestre, a grande chave é não querer ganhar especulando com a situação. "Evite, por exemplo, a tentação de querer comprar ações baratas para revendê-las mais caras pouco tempo depois", afirma, para depois complementar: "especuladores podem até ganhar muito dinheiro tentando atuar nestas 'brechas' de mercado, mas também perdem grandes quantias, e por isso precisam ter grandes capitais para bancarem sua estratégia investidora oportunidade'.
Veja abaixo a íntegra da entrevista que Silvestre concedeu ao Administradores:
Como proteger seus investimentos dos efeitos da crise?
Não tente ganhar especulativamente com a crise, e você também não perderá com ela. Evite, por exemplo, a tentação de querer comprar ações baratas para revendê-las mais caras pouco tempo depois. Sim, crises fazem as ações na bolsa apresentarem grande volatilidade de preços, com fortes quedas e abruptas altas subsequentes, o que abre margem para a atuação de especuladores. E especuladores podem até ganhar muito dinheiro tentando atuar nestas "brechas" de mercado, mas também perdem grandes quantias, e por isso precisam ter grandes capitais para bancarsua estratégia investidora oportunidade.
Já o pequeno (ou o médio) investidor, que disponha de pelo menos alguns poucos milhares de reais para aplicar no mercado de ações por ano, pode perfeitamente formar uma carteira de ações de primeira linha no longo prazo (acima de cinco anos) como estratégia para juntar um capital e realizar um grande sonho, como comprar um carro, uma casa, ou se aposentar com o respaldo de uma boa reserva financeira. Com isso, mesmo em tempos de crise, este investidor poderia perfeitamente ganhar uma média de rentabilidade líquida real mensal de 0,60%, algo equivalente a seis vezes o que lhe paga a caderneta de poupança, e com a grande segurança de somente investir em ativos financeiros de grande qualidade no longo prazo, ou seja, em ações das maiores e mais lucrativas empresas brasileiras negociadas na bolsa de valores.
Em tempos de crise, investir no longo prazo é a melhor opção?
No ano passado, as ações das grandes e sólidas empresas brasileiras mais negociadas na Bovespa fecharam todas com prejuízo. Isto, apesar de todas apresentarem grandes lucros, algumas até com lucratividade histórica recorde. Isto deverá ocorrer novamente em 2011, e talvez até em 2012. Mas uma incoerência como esta – ações de excelentes empresas, que vão muito bem, se desvalorizarem ano após ano – não pode perdurar no longo prazo, acima de cinco anos, simplesmente porque assim tais ações ficarão baratas de mais e, sendo a nossa Bovespa uma bolsa muito globalizada, o investidor internacional entrará comprando fortemente, no que será prontamente acompanhado pelo investidor local. Este mecanismo natural de incremento na demanda quando o preço cai demais é que mantém uma ação no longo prazo pagando em termos líquidos e nominais (sem descontar inflação) pelo menos o dobro que a caderneta de poupança. Desde que seja uma ação com grande liquidez, desde que esteja entre a mais negociadas da Bovespa, naturalmente.
O brasileiro sabe investir, conhece as opções?
O brasileiro médio até pode chegar a ser um investidor eventual, mas não é um investidor de fato, não tem planos de investimento que lhe permitam realizar seus grandes sonhos de compra e consumo aplicando uma mensalidade numa determinada aplicação, juntando dinheiro e ganhando juros para formar uma "bolada" e depois comprar à vista e com desconto. Assim, acaba sendo forçado a fazer uma nova dívida (crediário, financiamento) para conquistar qualquer bem de maior valor, deixando de embolsar um belo desconto à vista e ainda por cima pagando uma montanha de juros neste que é o país recordista mundial em juros reais praticados ao consumidor. Não ter uma cultura investidora custa muito dinheiro e qualidade de vida ao brasileiro padrão.
Quanto às ações, nos "anos de ouro" da Bovespa – de 2003 a 2008 – muitos investidores de pequeno porte "entusiastas" chegaram a entrar no mercado empolgados com as expressivas recorrentes altas. Mais de um terço deles já abandonou o mercado acionário desde então, e muitos hoje ainda estão lá, mas contrariados. Isso é um erro, porque o ganho que se deve esperar com ações não é aquele de alta porcentagem num curto período de tempo, mas o de uma "pequena" diferença na rentabilidade mensal nominal média com relação às aplicações conservadoras (Ex.: 1,10% líquidos mensais nas ações X 0,60% na poupança) que representará uma grande diferença na rentabilidade líquida real mensal – já descontada a inflação – que é a dimensão que deve realmente interessar para o investidor (Ex.: 0,60% líquidos das ações X 0,10% da poupança, descontada a inflação que é de 0,50% para ambas).
Se aplicarmos R$ 200 por mês na poupança com rentabilidade líquida real de 0,10% durante cinco anos, teremos R$ 12.400 acumulados (e devidamente corrigidos pela inflação acumulada) ao final do período, num ganho de R$ 400. Se o mesmo valor for destinado para quaisquer ações de grande liquidez da Bovespa, com ganho líquido real mensal de 0,60%, o mesmo esforço poupador e investidor mensal tem grandes chances de resultar no acúmulo de R$ 14.500, com ganho de R$ 2.500, o que dá mais de seis vezes o ganho acumulado da poupança, com a segurança de se investir somente em "blue chips", as ações mais cobiçadas do mercado.
Investimentos mais rentáveis podem ter seus riscos minimizados ou você acredita que quanto mais rentável for mais risco um investimento corre?
Há no mercado financeiro uma máxima de bom senso que dita o seguinte: "Quanto maior o risco, maior o retorno". O que não pode acontecer é seguir essa máxima cegamente e passar a acreditar que, expondo-se a risco, seu dinheiro estará naturalmente fadado a render mais. Na prática, a pior maneira de tentar comprar uma rentabilidade diferenciada é se predispor a pagar com a moeda da segurança. Agindo assim você entregará antecipadamente o "ouro" sem a menor garantia de que a tal aplicação arriscada lhe trará "diamantes" em retorno por tamanho desprendimento. Diferentemente do que corre por aí, ser dinâmico nos seus investimentos e rentabilizar bem não tem nada a ver com expor-se a risco tentando lucrar mais, pois uma postura investidora de alto risco pode afastar o aplicador da busca inteligente por aplicações que conciliem segurança elevada com retorno diferenciado, exatamente como os títulos públicos do Tesouro Direto e as ações de boas empresas brasileiras compradas via Home Broker.
O segredo do investidor dinâmico está, portanto, em fazer um bom plano de investimento para cada grande sonho que tiver, e assim identificar corretamente o prazo de realização de cada plano, buscando então a aplicação que melhor remunera em prazo equivalente, sem expor seu dinheiro a riscos. Assim, para planos de dois a cinco anos, dê preferência, por exemplo, à aplicação em títulos públicos, que podem pagar entre duas a três vezes o que lhe dá a poupança. Já para prazo superior a cinco anos, prefira as ações de grande liquidez negociadas na Bovespa, podendo assim ganhar seis vezes – ou mais – o que embolsa com a caderneta. Pense nas aplicações financeiras como o veículo que o levará ao seu destino, a realização do seu sonho: se for muito pertinho, vá a pé (de caderneta), um pouco mais longe, vá de carro (títulos públicos), e mais longe ainda, vá de avião (ações líquidas da Bovespa). 

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